quinta-feira, 4 de junho de 2009

ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. v.1.Prefácio. p.13-20.

Norbert Elias nasceu em Breslau/Alemanha em 22 de junho de 1897, e faleceu em Amsterdã, 1 de agosto de 1990. Elias foi um sociólogo alemão nascido numa família judaica, ele teve de fugir da Alemanha nazista exilando-se em 1933 na França antes de se estabelecer na Inglaterra onde passou grande parte de sua carreira. Seus trabalhos em alemão tardaram a ser reconhecidos, e ele viveu de forma precária em Londres antes de obter em 1954 um posto de professor na Universidade de Leicester.
No livro O Processo Civilizador, Norbert Elias analisa os tipos de comportamento considerados típicos do homem civilizado Ocidental, ele traça os hábitos Europeus, ou seja, a estrutura psíquica individual moldada pelas atitudes sociais. Elias nos deixa diante da questão da “civilidade” dos sujeitos, tendo em vista, que o “homem ocidental nem sempre se comportou da maneira que estamos acostumados a considerar como típica ou como sinal do homem ‘civilizado’” (p.13).
Ao nos reportarmos às configurações de nossa sociedade em períodos remotos é possível perceber que a noção de civilização tomava outras conotações, outras formas, outras compreensões. Assim, em sua reflexão, Elias lança as seguintes questões:”Como ocorreu realmente essa mudança, esse processo ‘civilizador’ do Ocidente? Em que consistiu? Quais foram suas causas ou forças motivadoras?” (p.13). Neste sentido, Elias busca examinar os significados e entendimentos atribuídos ao conceito de “civilização” na Alemanha e na França. A partir desta distinção é possível compreender como os alemães vem interpretando o comportamento dos ingleses e franceses, e como os franceses e ingleses interpretam o comportamento doa alemães.
Para que se torne possível abordar as principais questões que envolvem o processo civilizador, é preciso compreender como o comportamento e a vida afetiva dos povos mudou após a Idade Média. No segundo capítulo do livro é possível compreender o processo psíquico civilizador, sendo que, as idéias básicas do livro adquirem forma na observação constante que Elias realiza dos fatos históricos e na verificação constante do que foi estudado antes. Por isso, o segundo capítulo traz uma série de exemplos para mostrar o papel fundamental, por exemplo, desempenhado neste processo civilizador por uma mudança muito específica nos sentimentos de vergonha e delicadeza. Muda o padrão do que a sociedade exige e proíbe.

Outra questão que se desenvolve na investigação de Elias é o aumento da distância em comportamento e estrutura psíquica total entre crianças e adultos no processo civilizatório, ou seja, a diferença de processo civilizador que as sociedades atingiram. Neste segundo capítulo Elias demonstra com muita clareza que o processo especifico de crescimento psicológico nas sociedades ocidentais, nada mais é do que o processo civilizador individual a que todos jovens, como resultado de um processo civilizador social operante durante muitos séculos, são automaticamente submetidos desde a mais tenra infância, em maior ou menor grau, com maior ou menor sucesso.
No terceiro capítulo Elias busca tornar mais compreensíveis certos processos há muito tempo operantes nesta longa história da sociedade. Elias procura esclarecer como e porque no curso da sua história a estrutura da sociedade ocidental muda continuamente, e simultaneamente sugere porque nessas mesmas áreas, mudam o padrão de comportamento e a constituição psíquica dos povos do Ocidente. O que de maneira simples e clara Elias pretende apresentar, são as ligações entre mudanças na estrutura da sociedade e mudanças na estrutura do comportamento e da constituição psíquica.

A partir desse breve, e quem sabe, complexo esboço, intrincado de limitações, contradições e impossibilidades é pertinente trazer esta obra aos olhos daqueles, que como eu, se lançam aos caminhos investigativos, principalmente no campo dos Estudos Culturais, para que se possa acompanhar um estudo rigoroso, criterioso, e entremeado de fatos corriqueiros na constituição do processo civilizador da sociedade. Isso possibilita um olhar atento aos fatos, aos detalhes, aos mínimos movimentos e pequenas condições de possibilidade que interferiram na organização e constituição daquilo que chamamos, ou convencionalmente somos conduzidos a chamar e compreender como “sociedade civilizada”. Na leitura breve do prefácio e da introdução, bem como, de algumas páginas dos capítulos I e II da obra em análise muitas questões se fizeram presentes, muitos fatos se tornaram mais claros, e com certeza, muitos olhares de estranheza perpassaram essa leitura. Diante disso, e daquilo que pretendo investigar, ou seja, as condições de possibilidade de produção de sujeitos surdos nas malhas da normalidade, fico a me questionar: Quais as condições de possibilidade presentes em nossa sociedade para a produção e efetivação de uma estrutura social futura? Que entrelaçamento esse processo civilizador engendra na produção e instituição de sujeitos educáveis, dóceis, úteis? O que se compreende, na contemporaneidade, por civilização mediante as atrocidades vivenciadas corriqueiramente nas relações sociais?

Enfim, o que posso afirmar que esta obra me faz pensar, me faz refletir, me faz olhar de outra forma aquilo que vem se constituindo na sociedade contemporânea: o sujeito da Educação.

Um comentário:

Eduardo Bueno disse...

Parabéns Grasiele, gostei muito da sua análise da obra de Norbert Elias. Abraços, Paula.